No fim do ensino médio eu tinha certeza de que queria fazer engenharia mecânica para trabalhar na indústria automobilística. Escolhi prestar vestibular para a Unicamp, apesar de minha família morar muito próximo da Poli-USP. Sabia que queria morar em alguma cidade do interior paulista e não queria mais morar na capital. Passei na Unicamp (faz muito tempo, nem quero pensar rsrs …) e iniciei minha graduação.
Durante os anos da minha graduação fui me deparando com disciplinas que nada me diziam. Não conseguia ver nenhuma ligação entre o conteúdo que era dado e o que eu imaginava ser a engenharia que me levaria para os automóveis. Fiquei muito mais empolgado com a atlética do que com o curso. Fui um aluno medíocre, para dizer o mínimo.
No fim do curso fiz um pequeno estágio em uma montadora. Foi ótimo para eu ter a certeza de que aquele não era meu mundo. E agora? Não tinha gostado do curso e minha breve passagem por uma montadora foi frustrante.
Fiz mais um estágio, desta vez em uma gigante da tecnologia. Estava frito de novo!!! Não curti e soube de cara que ali não era meu lugar. Naquele momento achei que tinha escolhido a graduação errada.
Veio a oportunidade para fazer o mestrado na área de engenharia biomédica. Gostei do tema proposto e comecei. Meu objetivo era estudar como melhorar a durabilidade de uma prótese de quadril. Fui fazer disciplinas da medicina, acompanhar cirurgias e entender um mundo novo. Um fascinante mundo onde a engenharia era usada para criar produtos e soluções para as pessoas. Estudei mais em meu primeiro ano do mestrado do que todos da minha graduação. Estudava e gostava, porque via onde cada parte do conhecimento tinha aplicação.
Como consequência do meu mestrado iniciei minha vida empreendedora com dois colegas, montando uma microempresa voltada a desenvolver produtos usando a tecnologia que aprendi no mestrado. Era só uma microempresa começando, o que hoje chamam de Startup. Não havia crédito fácil e para dificultar ainda mais havia uma inflação monstruosa.
A partir da tecnologia de materiais para próteses fiz o projeto de um produto para caminhão, que parecia muito promissor. Quando levávamos o produto para apresentar para os possíveis clientes havia uma receptividade entusiasmante, a ponto de me permitir sonhar muito alto. Porém, a realidade comercial no fim foi bem diferente e o produto encalhou.
Entre uma ideia de produto e a realidade comercial havia um abismo e o que parecia tremendamente promissor não vendia quase nada. Além da enorme frustração, este episódio mostrou a necessidade de estudar uma disciplina que para mim, naquele momento, era totalmente desconhecida e que eu nem acreditava muito. Uma tal de Marketing.
Comecei a estudar Marketing e adorei o que estava aprendendo. Via um mundo novo onde cada parte tinha uma aplicação direta. Gostei tanto que em paralelo ao meu doutorado fiz um monte de disciplinas sobre gestão e acabei publicando meu livro de marketing.
Me tornei professor na Unicamp e com os anos fui migrando meu foco de estudos da área técnica para o Marketing. Com o tempo fui buscando minha real vocação, a interface entre a Engenharia e Marketing, e cheguei no Desenvolvimento de Produtos.
A partir da vontade de trabalhar em montadoras de automóveis me tornei empreendedor e segui a carreira acadêmica. Da engenharia passei pela área médica, pelo Marketing e caminhei até chegar em Desenvolvimento de Produtos. Um caminho com desvios, frustrações e alegrias.
O que mais me chama a atenção nesta minha jornada foram as mudanças de rumo e as possibilidades que foram se abrindo na medida em que eu também me abria para buscar o novo e começar do zero em uma área diferente. A palavra que melhor me ocorre para esta minha história é FLEXIBILIDADE.
Ser flexível, em minha opinião, não é aceitar tudo e se adaptar com o que o mundo do trabalho te entrega. Ser flexível é buscar alternativas, mudar de direção, contornar obstáculos, sempre com o objetivo de atingir a sua realização profissional e pessoal.
Não acredito muito em grandes sonhos e objetivos de longo prazo para a carreira. As coisas vão se sucedendo no dia a dia e a partir dos micro-objetivos se chega em resultados mais importantes, que nem sempre estavam no radar. A capacidade de aceitação e busca constante dos pequenos objetivos fornecem a visão das perspectivas e levam a resultados às vezes muito melhores que “os sonhados”
Não digo que seja fácil e reconheço que em certas passagens as “felizes coincidências” ajudam muito. Fiz um artigo sobre como vejo o papel da sorte na carreira – https://www.linkedin.com/pulse/para-o-sucesso-na-carreira-%C3%A9-preciso-sorte-marcelo-de-carvalho-reis/ .
Perseverança e paciência (às vezes MUITA PACIÊNCIA) são também palavras-chave nesta jornada da carreira (tenho um outro pequeno artigo sobre o assunto https://www.linkedin.com/pulse/tem-que-ter-muita-paci%C3%AAncia-porque-demora-para-dar-de-carvalho-reis/). Nas horas do desânimo, quando dá vontade de jogar tudo para o alto, se acalme e busque mais uma vez uma alternativa.
A história que relatei está tremendamente resumida e pode ter certeza de que não faltaram muitos momentos de chateação, mas que vistos agora, depois de superados, me mostram que são nestas horas em que mais aprendemos. Insista, persista, faça como um rio e contorne seus obstáculos. Tenha calma e paciência, seja flexível e mude todo dia um pouco.