Excesso de peso custa caro em diversas situações da vida. Não é preciso ir muito longe para dar exemplos sobre como o excesso de peso pode ser prejudicial à saúde. Ele possui impactos sobre a qualidade e a expectativa de vida. Hoje, mais do que nuca, existe uma preocupação crescente com o sobrepeso nas pessoas. Assim também é com os materiais que são oferecidos como alternativas ao uso de plástico pela indústria.
O sobrepeso não é apenas prejudicial quando se trata da saúde do ser humano. Também é quando está presente nos produtos que consumimos. E isso pode significar uma doença terrível para o meio ambiente. Aqui a questão não é sobre alguns gramas ou poucos quilos de gorduras localizadas, mas de milhares de toneladas que irão gerar bilhões de dólares em custos para o planeta.
Excesso de peso nos produtos é prejudicial ao meio ambiente.
A consultoria Trucost fez um estudo[1] publicado pelo American Chemistry Council (ACC) onde são apresentados os custos em dólares que poderão advir da substituição dos materiais plásticos por materiais alternativos. No meu artigo anterior – A insustentável leveza dos plásticos – apresentei dados deste mesmo relatório do ACC mostrando que substituir os plásticos por outros materiais vai elevar o peso dos produtos de consumo e isto acarretará um significativo impacto ao meio ambiente, na forma de gases de efeito estufa e outras consequências.
“Relatório do ACC mostra que substituir os plásticos por outros materiais vai elevar o peso dos produtos de consumo em 4,1 vezes”
Vamos olhar neste artigo quanto estes impactos podem representar em perdas financeiras, quando são avaliados para os bens de consumo dos setores apresentados na tabela abaixo.
Para correlacionar deterioração ambiental e perdas financeiras globais, a Trucost desenvolveu uma metodologia bastante sofisticada. Ela se apoia em um extenso levantamento da literatura feito por De Groot[2] e seu grupo de pesquisa da Wageningen University da Holanda. O estudo incluiu impactos associados à emissão de gases de efeito estufa, captação de água, emissões de poluentes do ar e degradação de água e terra que ocorrem ao longo da cadeia de valor. Entretanto, o estudo não incluiu o custo de oportunidade futura para a sociedade, quanto ao esgotamento de recursos não renováveis que podem não estar disponíveis para as gerações futuras.
Quais são as alternativas ao plástico?
Para as simulações de materiais alternativos aos plásticos foram considerados as seguintes possibilidades: Aços, Alumínio, Vidros, Papeis e Papelão, Tecidos, Madeira, Lã de rocha e correlatos e Couros. Os cálculos levaram em consideração as densidades dos diferentes tipos de materiais bem como suas propriedades mecânicas para efeito de substituição aos plásticos. Desta forma, em uma hipotética embalagem feita de plástico com uma determinada espessura, o alumínio, por exemplo, poderia ser utilizado em espessura menor devido às suas propriedades mecânicas intrínsecas.
As proporções quanto às possibilidades de uso dos materiais alternativos foram calculadas levando em consideração as especificidades de cada setor. Na prática isto significa que o estudo analisou para cada um dos setores avaliados quais materiais alternativos poderiam ser usados. Também analisou de que maneira, seja por restrições impostas por legislação ou por limitações técnicas.
Resultados
Em geral, o custo ambiental por Kg dos materiais alternativos é menor do que o dos plásticos. Isso significa que um quilo de material alternativo resultará em um impacto ambiental (nas diferentes formas possíveis) menor quando comparado a um quilo de plástico. Entretanto devido às significativas diferenças de densidade dos materiais alternativos, quando comparados aos plásticos, seriam necessários, em média, quatro vezes mais materiais em peso para conseguir as mesmas funções dos plásticos. Por exemplo: uma garrafa de refrigerante é fabricada com 30 gramas de plástico. Porém quando feita por qualquer um dos materiais alternativos demanda algo em torno de 141 gramas (vidro, aço ou alumínio). A explicação para estes números está baseada nas diferentes densidades dos materiais. As quantidades necessárias para a obtenção dos efeitos desejados para a aplicação também são levadas em conta.
Quando foram analisados todos os setores estudados, considerando as possibilidades de substituição dos plásticos, concluiu-se que o custo ambiental com o uso do plástico é 3,8 vezes menor em comparação ao uso de materiais alternativos. Extrapolando o raciocínio seriam necessários 342 milhões de toneladas de materiais alternativos para substituir 84 milhões de toneladas de plásticos.
O uso do plástico é 3,8 vezes menor em comparação ao uso de materiais alternativos
A figura 1 mostra a estimativa em dólares quanto aos custos ambientais considerando o uso dos plásticos como feito atualmente e os custos na situação da substituição por materiais alternativos.
Figura 1- Custos ambientais para usos dos plásticos (Business as Usual) e para possíveis usos de materiais alternativos. [1]
É fundamental deixar claro que a grande vantagem do uso dos plásticos está em sua baixa densidade. Isso porque quando se comparam o custo ambiental por quilo de material, os plásticos perdem para a média dos materiais alternativos. A figura 2 mostra o custo por quilo e os reflexos da vantagem quanto à menor densidade dos plásticos. Isso levando em consideração que serão utilizados em muito menor quantidade em peso que os materiais alternativos.
Figura 2- Custo ambiental por quilo e custo decorrente pelo uso[1]
Dentre os materiais alternativos, o alumínio é, sem dúvida, o que acarreta maiores custos ambientais quando em substituição aos plásticos. Veja também no gráfico abaixo que o segundo material com maior custo ambiental é o papel seguido do vidro.
Figura 3- Parcelas do custo ambiental total para os materiais alternativos aos plásticos convencionais[1].
Conclusões
Os resultados apresentados no documento completo do ACC mostram que as propostas de substituição dos plásticos são na verdade mais caras ao meio ambiente. Pensar na mera troca de materiais não é, ainda, a solução para o grave e crescente problema que temos em nosso planeta. Os plásticos são sim a melhor solução que dispomos para mitigar as questões ambientais.
Pensar nas futuras gerações exige desprendimento de ideologias e justiça para decisões corretas.
Naturalmente, a maneira como os plásticos são usados e principalmente descartados ainda se é um problema enorme. E ele precisa de uma solução urgente. O ponto é que estas soluções não passam pela mera troca de materiais. No entanto os problemas não estão apenas neste aspecto. É fundamental a análise para o desenvolvimento de produtos amigáveis ao meio ambiente. E ela deve ser realizada considerando todos os possíveis fatores geradores de problemas ambientais.
O relatório no qual baseei-me para este pequeno artigo é bastante extenso. Ele ainda traz mais informações sobre propostas de políticas para redução dos impactos ambientais, causados pelo uso dos plásticos e dos materiais alternativos.
Justiça também se faz com boas escolhas de engenharia.
Em breve vamos falar mais disso.
Referências
[1] R. Lord, “Plastics and Sustainability: A Valuation of Environmental Benefits, Costs and Opportunities for Continous Improvement.” 2016. [Online]. Available: https://plastics.americanchemistry.com/Plastics-and-Sustainability.pdf.
[2] R. de Groot et al., “Global estimates of the value of ecosystems and their services in monetary units.” Ecosyst. Serv., vol. 1, no. 1, pp. 50–61, 2012, doi: 10.1016/j.ecoser.2012.07.005.
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